terça-feira, 30 de junho de 2009

PENSAMENTO UM

VIDA (QUASE) PERFEITA

A minha vida era estável, tinha a mulher perfeita ao meu lado, dois filhos maravilhosos, o emprego que sempre sonhei, os amigos fiéis para toda hora e os pais apoiadores em toda a minha vida até aqui.

O que eu quero mais?

Eu sou engenheiro de softwares e gerenciava uma equipe de mais de cem profissionais em uma multinacional no Brasil. Não tinha o que reclamar dos meus vencimentos, dos companheiros de trabalho ou do próprio trabalho. Era tudo muito tranqüilo.

Há seis meses atrás, a diretoria contratou um consultor de RH da filial portuguesa. David era brasileiro, solteiro, morou no exterior (Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, França, Itália, Espanha e Portugal), 35 anos, multilíngüe, desinibido e profissional exemplar.

Depois de dois meses, David vasculhou e encontrou vários pontos negativos da empresa e nós passamos a trabalhar diariamente juntos para solucionar todos os problemas apresentados em seu relatório.

O nosso trabalho dava resultados expressivos à empresa e, logo, David passou a trabalhar em minha equipe como supervisor. Com o passar dos dias, ele se tornou um grande amigo e passei a freqüentar o “happy hour” após o trabalho quase diariamente.

Em todos os “happy hour”, David me apresentava uma mulher diferente que ele conheceu pela internet, através de um site de relacionamentos. Diferentes em todos os sentidos já que eram loiras, morenas, negras, mestiças, asiáticas, jovens, maduras, lindas, belas, magras, gordas, solteiras e casadas.

Ouvia as histórias do David e ficava boquiaberto com as aventuras. Eu queria ser como ele, um gênio.

David me encorajou a criar um perfil no site de relacionamentos. Respondi a cada pergunta do site e, passadas algumas semanas, ninguém leu o conteúdo do meu perfil.

Depois de uma reunião, eu conversei com David que sairia do site de relacionamentos. Ele pediu para ver o meu perfil, ficou sério, riu e, calmamente, começou a mexer nos textos.

Alguns minutos passados, ele pediu para olhar. Eu não acreditei no que eu li: “Casado com relacionamento aberto, dois filhos, poucos amigos, ótimo emprego e em busca de novos e intensos relacionamentos.”

Ele adicionou algumas amigas que conheceu pelo site e, repentinamente, inúmeras mulheres acessaram o meu perfil. Passei algumas horas ali, em pleno trabalho, aceitando ou excluindo mensagens.

Realmente, David era um gênio e conseguia com maestria a simpatia das pessoas.

Depois de um mês, com freqüência de mais de uma centena de mensagens a serem respondidas diariamente, deixei de freqüentar os bares depois do trabalho e ficava mais de duas horas na minha sala conectado à internet.

Um mês atrás, depois dos conselhos de David, resolvi conhecer uma mulher do site de relacionamentos. Kelly, gaúcha, 32 anos, solteira, comissária de bordo, loira, 1,75m, magra, linda e independente.

“Happy hour”, internet, família e amigos ficaram no passado. Eu e Kelly nos encontrávamos dois ou três dias por semana em seu flat. Passamos a viver intensamente esta relação carnal, onde o desejo sexual prevalecia sobre tudo. Eu tinha a melhor amante do mundo em minha vida. David era um gênio.

David continuou a trabalhar dentro do horário de trabalho, a freqüentar o “happy hour” e a sair com várias mulheres que conhecia pela internet. Eu me apaixonei pela comissária de bordo, divorciei e passei a morar no flat dela.

David se aproximou do presidente da empresa com o meu aval. Dias atrás, David assumiu o cargo de vice-presidente. O vice-presidente anterior virou gerente em meu lugar.

Hoje, com a crise econômica global, fui rebaixado e sou supervisor de apenas doze funcionários, com os mesmos ganhos, porém sem a mulher perfeita, pago a pensão dos meus dois filhos, sobrou apenas o meu amigo David e os meus pais não apóiam a minha atual condição de vida.

Lembrei daquele velho ditado “quem muito quer, nada tem” para escrever este texto.